A ORIGEM
No ano de 1897, a 7 de julho, nasce o menino Virgulino Ferreira da Silva, no sitio Passagem das Pedras, na antiga ViIa Bela, hoje Serra Talhada.
A controvérsia da data existe, mas se toma irrelevante frente às dificuldades encontradas na época - como ainda hoje em dia - de se registrar uma criança no sertão nordestino, pois os cartórios ficam normalmente nos grandes centros comerciais, distante da maioria da população que, pobre e sem instrução tardam em recorrer a estes órgãos para registrar suas proles.
Alguns historiadores teimam em dizer que Virgulino nasceu em 1898 por causa de um batistério expedido no município de Tauapiranga pela diocese local. Acontece que, tanto quanto o registro de nascimento, o batismo também era feito em um considerável espaço de tempo, a partir do nascimento do bebê. Daí a confusão com os números.
A FAMÍLIA
Virgulino foi o segundo filho de José Ferreira da Silva e Maria Lopes dos Santos. O casal teve, ao todo, nove filhos, sendo cinco homens e quatro mulheres, a saber: Antonio, Virgulino, Livino, Virtuosa, João, Angélica, Maria, Ezequiel e Anália.
O velho José Ferreira trabalha de Almocreve, que na linguagem de hoje seria um tipo de vendedor ambulante que andava com uma tropa de burros levando toda a sorte de apetrechos que fazem, parte do dia a dia das comunidades sertanejas, desde cereal, carne seca, mantas, tecidos, artigos de couro, etc. A maioria dos filhos homens ajudava o pai neste afazer enquanto que as mulheres se ocupavam da casa e da confecção de rendas. Tinham também alguns animais, caprinos e bovinos, que criavam no regime de solta, ou seja os animais viviam soltos dentro da caatinga e, na necessidade de capturar alguns destes os filhos penetravam na mata em busca dos mesmos. Nesta atividade Virgulino se aperfeiçoou com destreza, ganhando o elogio e a admiração de todos. Outra atividade que fazia com tamanha perfeição era a de amansador de animais de montaria. Tanto êxito teve nessa profissão que era requisitado pelos fazendeiros vizinhos para tratar dos animais das fazendas.
A vida daquela gente humilde transcorria normalmente e o trabalho era a essência de todo progresso da família. O estudo, que devido ao acúmulo de trabalho e à falta de escolas, estaria relegado a segundo plano. Porém, quando alcançou a idade entre 7 e 10 anos o menino Virgulino aprendeu algumas letras rua escolinha do professor Domingos Soriano e Justino Nenéu, educadores residentes em Nazaré, povoado próximo da fazenda Passagem das Pedras. Este aprendizado não teria durado sequer 3 meses, o bastante para que Virgulino aprendesse a ler e escrever. Diz-se que ele havia dito ao tio Mané Lopes, responsável pela sua entrada na escola que o que aprendera “pra vaqueiro já bastava”, pois era o que queria ser.
O PRINCIPIO DE TUDO
Próxima à fazenda Passagem das Pedras existia uma propriedade de nome pedreira, de Saturnino Alves de Barros. Este fazendeiro tinha dois filhos, um deles, José Alves de Barros ou Saturnino das Pedreiras seria o móvel de toda intriga que eclodiria com a entrada de membros dos Ferreiras no cangaço a saber: Virgulino, Antonio e Livino.
Inveja, discordância política, ignorância e um suposto roubo de animal foram o estopim, para que as duas famílias, que antes até filhos apadrinhados tinham, enveredassem numa guerra de vingativas que transformou o sertão do inicio da década de 20 num pandemônio.
OCORRÊNCIAS FATAIS
Por volta de 1915, quando uma das maiores secas assolou o sertão, ocorreu o sumiço de alguns caprinos de propriedade dos Ferreira. Na investigação, feita pelo tio de Virgulino, Mané Lopes, que era inspetor de quarteirão na época, foram descobertos peles dos caprinos no sitio de um morador de José Saturnino. Este morador, de nome João Caboclo, foi preso e levado à presença do delegado.
ACORDO DE PAZ
Diante de tantos problemas verificados com aquelas famílias algumas autoridades na época acharam por bem intervir e firmar um acordo de paz, entre as partes. Pessoas de destaque como coronéis, juizes, fazendeiros, padres, tomaram parte do acordo. Sendo assim ficou decidido que as famílias iriam evitar cruzar a ribeira da outra. Saturnino das Pedreiras estaria impedido de freqüentar o povoado de Nazaré, que era mais próximo à terra dos Ferreira e estes por sua vez não poderiam passar pelas terras dos Saturnino/Nogueiras.
A MORTE DOS PAIS
Dona Maria Lopes, perturbada com tantos problemas passou a sofrer vertigens devido a problemas cardíacos, vindo a falecer a 14 de Abril de 1920, ainda em Matinha. A família enlutada sepultou a mãe. Seu José desenganado, almejou mais uma vez se mudar. Iria desta vez para Água Branca. Quando chegou numa localidade chamado Engenho se deixou ficar por algum tempo numa casa cedida, pelo Senhor Antônio Fragoso. Lá devido às perseguições que os Ferreira vinham enfrentando a casa foi cercada por uma volante policial que procurava pelos irmãos Ferreira, através de urna denúncia de que eles haviam se juntado a um grupo de salteadores chamados Porcinos. Cercada a casa, o velho que se encontrava debulhando milho dentro de um cesto, no terraço da casa, com um “quicé” nas mãos, foi interpelado por um sargento de nome José Lucena, que futuramente veio a ser o segundo maior inimigo de Lampião. Na discussão o sargento, que estava acompanhado por um delegado de nome Amarílio, sem mais nem menos, desfere um tiro à queima roupa rio ancião sem que este esboçasse qualquer reação, matando-o. Em 22 de Abril de 1920. A revolta foi geral Virgulino fora avisado da tragédia e, junto com os outros dois irmãos partiram para sepultar mais um ente querido.
DE VIRGULINO A LAMPIÃO
Agora envolvido de vez no grupo dos Porcinos, Virgulino e os irmãos preparam um ataque contra a volante de Lucena. Procurou manter seu nome em segredo para não criar maiores expectativas aos comandantes que o perseguiam.
O PRIMEIRO COMBATE
Partindo como uma fera raivosa Virgulino, no dia 20 de junho de 1921 consegue cercar a volante de Lucena, matando na refrega, um cabo e um soldado. Deste dia em diante Lucena passa a temer o inimigo, que julgou muito astuto no combate, chegando até a exaltar sua coragem em conversas com alguns subordinados. Em contrapartida Virgulino passa a respeitar o poderio bélico do inimigo, evitando maiores combates com este. Neste começo de carreira, Lampião alcançou notoriedade por causa da violência com que atuava, pois passou a mover um ódio indescritível contra a polícia.
LAMPIÃO: CHEFE DE BANDO
A partir daí, com a dispersão do grupo dos Poremos e do tio Antônio Matilde, que resolvera abandonar o grupo, Lampião passa a fazer parte do bando de Sinhô Pereira. Em 1922, a pedido do Padre Cícero, Sinhô Pereira abandona o campo de luta e foge com o primo Luiz Padre para o estado de Goiás. Lampião recebe então o comando do grupo de Pereira, ganhando neste mesmo tempo o apelido de Lampião, por causa da rapidez com que manuseava o rifle, fazendo um clarão "parecendo um Lampião" segundo diziam.
A PATENTE DE CAPITÃO
No ano de 1926, Lampião foi convidado pelo Padre Cícero do Juazeiro a dar combate à Coluna Prestes, que se internava no sertão numa fileira de mais de 1000 homens. O pedido foi endossado pelo presidente Artur Bernardes que, contando com o apoio do então Deputado Floro Bartolomeu pós o plano em ação: ou Lampião liquidava com a Coluna Prestes ou vice versa. Formalizado o pedido, Lampião ganhou de imediato galões de Capitão das forças legais. Para selar o acordo, recebeu também grande quantidade em armamento, fardas e mantimentos militares. Lampião, como se era de esperar, não foi bem recebido pelos oficiais de outros estados, que não reconheciam sua patente. Revoltado com a falta de acolhimento Virgulino se esquiva de combater a Coluna, pois inclusive, nada tinha contra ela. Com sarcasmo e inteligência deu meia volta da empreitada e afirmou:
– já que ninguém reconhece minha patente por aqui, a viola vai cantar na cantiga velha!
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